O dublador Yuki Kaji esteve presente no Anime Friends 2024 em uma passagem rápida pelo país, mas que reuniu muitos fãs para vê-lo.
Sendo um dos maiores seiyuu atuais, ele deu voz à Kenma de Haikyu!!, Shoto Todoroki de My Hero Academia, Eren Yeager de Attack on Titan e Meliodas de The Seven Deadly Sins. Por serem personagens tão famosos, não foi uma surpresa ver a quantidade de pessoas na sessão de autógrafos, nos dois bate-papos abertos ao público e na coletiva de imprensa.
Foram apenas trinta horas em solo brasileiro, mas foi, sem dúvidas, uma visita memorável! Kaji esteve no evento na sexta-feira, dia dezenove de julho e a coletiva de imprensa foi a penúltima participação dele no AF. A entrevista durou aproximadamente vinte minutos, onde ele foi muito simpático ao responder as perguntas.
São anos nesse trabalho que reuniu muitos personagens com variações de tom e volume na voz. Levando isso em consideração, a melhor forma de descrever a voz real do dublador é como sendo algo entre Kenma e Todoroki. É um tom tão calmo, tão suave, que confesso ter pensado que “é tão diferente do Eren que nem parece ser a mesma pessoa”. Essa é a maior prova do talento de Kaji: os personagens têm a mesma voz, mas cada um com suas particularidades.
Eu passaria horas ouvindo ele falar, mas apenas fora da ficção, porque é complicado ouvir alguns personagens de sua carreira por muito tempo. Sim, estou falando de Eren e seus gritos que geraram os famosos tatakae, tatakae. Não foi uma surpresa que o tema da primeira pergunta (Erick) tivesse certa relação com isso. Afinal de contas, gritos cansam a garganta, ainda mais de alguém cujo trabalho é usar a voz. Então, quando questionado sobre como a garganta dele sobrevive a essas demandas, ele falou que, fisicamente, faz acompanhamento com médico e, mentalmente, não tem muitos problemas, apenas se prepara para entrar no papel.
Ainda sobre o lado pesado do trabalho, o dublador recebeu uma pergunta (Natália) sobre o gênero de anime mais difícil para dublar. A resposta me surpreendeu: não é exatamente sobre um gênero literário ou uma demografia, mas, sim, sobre diferença etária. Ele disse que é mais fácil dublar personagens mais novos do que ele, pois já passou pela experiência de ter a idade deles. Logo, um personagem mais velho é mais difícil justamente por ser algo que ele ainda não vivenciou. É uma curiosidade sobre o trabalho de Kaji que eu não conhecia, mas, pensando bem, faz bastante sentido.
O interesse pelo o início da carreira dele foi uma constante nas perguntas durante sua visita ao país. Por isso, ele contou um pouco sobre o processo para se tornar um dublador no Japão. São dois caminhos: estudar em uma escola técnica para aprender sobre a profissão ou primeiro se tornar um ator de teatro, filmes ou séries e depois seguir para a dublagem.
Após ser solicitado (Daniel), Kaji também deu uma dica de ouro para quem quer trabalhar na área: conhecer muito bem o personagem. Isso inclui entender o mundo onde se passa a história e os personagens ao redor, como parentes e amigos.
Fugindo um pouco de dublagem, foi pedido (Caique) para o ator contar sobre a experiência de atuar em um tokusatsu. Ao que recebemos a resposta mais fofa possível: o dublador sempre quis ser um heroi que salva a Terra assim como os de tokusatsu. Ele gosta desse tipo de mídia desde quando era criança, então foi fácil entender o sentimento de realização que ele teve com esse trabalho.
Foi citado (Shiroma) o dado de que existem em torno de dois milhões e setecentos mil japoneses e seus descendentes no Brasil e perguntado se Kaji tinha conhecimento sobre isso. Ele comentou que ficou sabendo disso através de sua tradutora e ficou admirado. Não só por isso, mas pela quantidade de fãs que falaram com ele em japonês. Ele gostou de saber que muitos brasileiros amam o Japão e sua cultura, o que fez ele gostar cada vez mais do Brasil.
O que levantou a questão (Eduardo) sobre a recepção brasileira, ao que ele reforçou o quanto gostou do país e dos fãs daqui. Disse que somos parecidos com os fãs japoneses, respeitosos e que nos preocupamos em pensar no próximo.
Não foi inesperado que o tema IA surgisse e foi através de uma pergunta (Fábio) sobre como Kaji e outros dubladores japoneses estão lidando com a questão. Quem acompanha os dubladores brasileiros sabe que eles estão se mobilizando para regulamentar a ferramenta, por isso é interessante saber como está sendo em outro país. Então também não foi uma surpresa ouvir que, assim como aqui, esse é um assunto difícil e delicado no Japão. No momento não existem danos no mercado lá, mas o dublador falou que não dá para negar que é algo que pode acontecer. Ele completou dizendo que gostaria de não ter que lutar contra essa tecnologia, mas encontrar uma forma de conviver com ela.
A última pergunta finalizou perfeitamente a coletiva de imprensa: “quando você começou sua carreira, você esperava fazer papéis tão grandes e icônicos e como é lidar com tudo isso agora?”. Ao iniciar sua jornada, Kaji disse que queria fazer um trabalho que fosse especial para os fãs. Foram muitas dificuldades e desafios no caminho, mas ele nunca esqueceu o motivo para começar. “É graças aos personagens, a cada obra, que tenho a possibilidade de viver tantas coisas. Graças a vocês, estou seguindo essa carreira incrível.”
Escrevi sobre os bate-papos no Palco Arena AF e no Auditório Ultra no post sobre o Anime Friends 2024.
Agradeço à intérprete Junko Kobayashi que acompanhou Yuki Kaji em solo brasileiro e ajudou a diminuir a barreira linguística.
Como eu já disse, ficou claro que existe um público muito interessado nesse tipo de atração em evento, então torço para que se torne uma constante. Tanto que já me permito imaginar quem serão os dubladores japoneses que virão para os próximos AF!