Entrevista com Douglas Docelino na PerifaCon 2023

por em 10 de outubro, 2023 Comente

Como redatora do Portal PerifaCon, fui uma das responsáveis pelas entrevistas no Beco dos Artistas da terceira edição da PerifaCon. Douglas Docelino é ilustrador, quadrinista e animador e foi um dos entrevistados.

Foram sete entrevistas feitas em conjunto com Gabriel Santos, também redator do Portal. Foi uma oportunidade maravilhosa porque conheci artistas excelentes, além de aprender mais sobre um tema que já me interessava.
A princípio, eu não tinha a intenção de compartilhar as conversas aqui, mas a ideia surgiu enquanto trabalhava no texto que escrevi junto com o Gabriel. É um conteúdo tão interessante que quero que mais pessoas tenham acesso a ele.

Conheci Douglas Docelino por intermédio da esposa dele, a Natália, que também é redatora do Portal PerifaCon. A entrevista dele foi a última que fizemos e finalizou muito bem o dia de trabalho.
Eu leio mangás, manhwa e manhua, então fiquei muito empolgada quando ele citou essas obras. Junte a isso o quão legal foi ouvir o Douglas falando sobre Simone, o quadrinho dele, e as dicas que ele deu para novos artistas. É claro que eu não poderia manter essa entrevista guardada. Também é o motivo para compartilhar ela na íntegra; ficou boa demais para ser cortada e editada.

Onde encontrar o artista:

Artstation: Douglas Docelino
Rede social: Instagram

entrevista Douglas Docelino PerifaCon

Você pode começar se apresentando? Falando um pouco sobre seu trabalho…

Meu nome é Douglas Docelino, eu sou ilustrador, quadrinista e animador. Eu trabalho desde 2011 com ilustração. E acho que tem uns dois anos ou três, eu não me recordo muito, comecei a trabalhar com meu projeto pessoal que é quadrinho mesmo. Fazendo personagens do quadrinho da Simone.

Como está sendo o evento para você em questões de expectativas?

O evento, para mim, tá sendo ótimo. Muita gente, muita gente boa aqui, né. E a galera tá gostando do meu trabalho, então eu fico muito feliz com isso. Tá sendo mágico, essa é a definição, entendeu.

Quais impactos você acha que um evento como a PerifaCon exerce na sociedade, especialmente no campo artístico?

Eu acho que é de suma importância porque as pessoas meio que esquecem que você tem que gerar público novo. Então, a Perifacon é justamente nesse público que necessita dessa cultura. Dizer que essa galera não consome é mentira, a gente tá vendo isso aqui. É muita gente e a galera adora, entendeu. E é claro, por exemplo, eu tento sempre procurar gráficas melhores, sempre para fazer um preço melhor, porque é um preço acessível para as pessoas. Porque quanto mais pessoas conhecerem meu trabalho, quanto mais pessoas consumirem o trabalho, melhor você vai ter também no futuro. Você consegue alimentar a máquina.

Então, eu acho que é de suma importância não só também a parte cultural. A parte cultural é importante, qual que é o conhecimento que você vai passar? Conhecimento de histórias novas, histórias periféricas, histórias de pessoas pretas, pessoas trans, LGBTQIA+. Tipo, todo esse conteúdo, ele é muito importante e a Perifacon entrega tudo isso. Então acho muito importante isso.

A questão da acessibilidade. Não adianta só fazer eventos no centro.

Exatamente. Aqui pode até ser distante, mas aqui tem muita gente. Muita gente boa, muita gente que gosta de arte, gosta de quadrinhos. A galera pira com quadrinhos, a galera lê mangá. Pessoal fala que não lê; lê, sim! Eles querem ler mangá, eles querem ler um quadrinho brasileiro. Eles ficam felizes se, por exemplo, tem a série da Netflix que tá aqui, Sintonia. Então, a galera quer se ver, a galera quer ser representada e ver também os espaços onde ela anda. Não adianta nada ficar só com novelinha da Globo. Mas é muito importante ter esse conteúdo. A pergunta é “é importante, pra mim?”, é muito importante, é mega importante.

Como é ser um artista e quais suas principais influências? Quando você viu que encontrou seu traço?

Olha, eu ainda não encontrei meu traço porque o artista nunca está satisfeito com seu trabalho. Mas a minha influência, olha: desde Mignola, Arthur Adams, poxa, é muita gente, é muito difícil. Até autores brasileiros também, o Danilo Beirute, gosto muito do Danilo Beirute, do trabalho dele. Os dois Isaacs, o Isaque Sagara que está aqui, o outro Isaac que também está aqui. Eles fazem parte do Narrativas Periféricas. E a galera de mangá. Os autores de mangá, eu gosto muito do autor do Naruto, o autor do Dragon Ball. One-Punch Man, eu gosto muito de One-Punch Man. Demon Slayer, a animação. Então, se você for falar assim “não, quais suas influências?”, eu vou ficar o dia inteiro aqui falando.

Mas o meu traço, eu ainda não defini ele, eu acho que não tá definido. Antigamente, eu tinha essa ânsia de ter um traço definido. Mas hoje em dia eu faço: esse é meu trabalho, é o que faço agora, dessas minhas influências. Então, se acho que meu trabalho tá definido? Eu não acho, mas eu acho que evoluí bastante.
Não sei se eu respondi todas as perguntas…

Respondeu e eu quero adicionar uma pergunta: você falou que não encontrou seu traço. Então, tem alguma coisa que você ainda quer muito aprender a desenhar?

Uma coisa que eu quero muito aprender a desenhar? Cara, olha, eu tenho um probleminha de desenhar coisa de perspectiva. Cenários, apesar de na minha HQ ter cenários da Liberdade. Tá bom, não tá ruim, mas podia estar melhor, então eu tenho essa ânsia.

E eu adoro também desenhar veículos. Adoro desenhar veículos. Então, moto, carro, eu gosto de desenhar porque eu acho muito difícil. Pneu de moto, desenhar? Rapaz, com perspectiva, então! Eu, por exemplo, eu gosto muito de Akira. Eu gosto de Akira por causa das cenas de perseguição de moto. As perseguições de moto no mangá? É maravilhoso! No anime é muito lindo, mas no mangá é maravilhoso pela perspectiva, linhas de movimentos da moto. Então, sei lá, eu acho que é mais cenário e veículo, eu tenho esses probleminhas ai.

entrevista Douglas Docelino PerifaCon

Agora, falando um pouco dos seus itens para venda. Quais você acha que vendem mais? Quais você sabe que vende mais, se tem algum personagem favorito…

Olha, por incrível que pareça, eu acho que a minha personagem Simone. Ela sai muito bem, eu até fico surpreso por ela ter saído tanto. Porque eu meio que fiz sem pretensão, fiz para portfólio. Fiz para mostrar o que eu conseguia fazer com trabalho. E a galera gosta muito, então ela sai bastante e os adesivos também saem. É isso, eu acho que esses produtos saem mais. Alguns prints saem, mas o gibi tá saindo mais.

Você falou que colocou a Liberdade no Simone. Por que você decidiu colocar uma parte de São Paulo?

Tem dois motivos que coloquei a Liberdade. O primeiro: eu gosto da Liberdade, muito. Eu gosto muito de ir lá bater perna e ficar olhando os mangás. O segundo motivo é porque a Simone, ela vai resgatar a filha dela na Liberdade. É meio que resgatar as raízes afro-brasileiras que tem na Liberdade. Porque a gente só conhece a Liberdade agora que estão querendo mudar e colocar Japão-África na Liberdade. Mas antes não era assim quando começou a produção da Simone. Então o próprio nome da Liberdade que vem daquela história de o escravizado ser enforcado e a corda quebrar duas vezes. Depois, sabe, de ser um cemitério onde escravizados e indígenas eram enterrados lá.

Então, de toda essa estrutura, é como se a Simone fosse resgatar esses valores lá. Não é atoa que, na história, ela pede ajuda dos orixás. E não só os orixás, mas os filhos dos orixás ajudam, com axé, a personagem na batalha final. É como se todos eles estivessem se unindo pra falar “olha a ideia de misturar esses elementos de afro-brasileiros com o Japão”, é para falar assim “não, Liberdade é legal ter esses elementos do Japão, mas tem muito elemento do Brasil aqui também, né”. Nunca um esquecer o outro, é a harmonia dos dois.

Quais as três palavras que você usaria para descrever Simone?

Três palavras? Ação, terror e Brasil. É isso.

Para finalizar, você tem alguma dica para quem quer começar a trabalhar nessa profissão?

Tenho, tenho, sim. Eu acho que é estudar, estuda os artistas que você gosta. Eu sei que agora a gente tá na era da I.A., mas a I.A. nada mais é do que ela ficar copiando outros artistas. E, literalmente, na verdade ela rouba artes dos artistas, e não remunera eles em nada. Então, assim, se você quer estudar, por exemplo: é interessante que alguns artistas, eles voltam para muito mais atrás, vão para artistas de museu. Mas se você gosta de uma linha de mangaká, eu acho legal dar uma olhada nisso. Porque nada impede você de fazer um mangá brasileiro com estilos, porque mangá nada mais é que quadrinho.

Os quadrinhos que os mangakás se baseavam muito são os quadrinhos norte-americanos, alguns. Outros se baseavam em outros estilos. Aí agora tem os estilos de quadrinhos da Coreia, que são totalmente diferentes. Tem estilos de quadrinhos da China, quadrinhos africanos. Então cada um tem a sua linha, o quadrinho europeu tem uma linha. E o quadrinho brasileiro tem toda a brasilidade daqui. O Jeremias, para mim, é uma obra prima, ponto. E tem toda aquela coisa do Brasil, coisas só dos elementos que tem no Brasil. Então, eu acho que você não pode fechar os olhos, achar que vai brotar um estilo do nada porque não é assim que funciona, mas dá uma olhadinha nas referências do que você gosta. E põe o seu coração. Parece meio clichê, mas, quando você faz as coisas do seu coração, elas fluem melhor.

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Ellen Silva
Amo animes, mangás e livros.
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